sábado, 16 de outubro de 2010

Aborto nas eleições: a quem interessa? - Terça-feira, 19 de outubro, às 19:00 horas

Retransmitimos a matéria publicada na edição de domingo, 17 de outubro, do jornal Tribuna do Norte para estimular a reflexão e a discussão sobre a temática que será abordada no encontro especial dos Diálogos Criativos de terça-feira, 19 de outubro.

"O divisor de águas de uma disputa eleitoral"

Simone Cabral (simone.cms@hotmail.com) - Professora da Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)
Antonino Condorelli (dialogos_criativos@dhnet.org.br) - Coordenador dos Diálogos Criativos

Na discussão pública do segundo turno das eleições presidenciais, um emaranhado de forças conflitantes acabou trazendo para o centro da cena política um debate - ora de domínio público (inerente aos direitos e deveres promovidos e garantidos pelo Estado), ora de domínio privado (referentes a valores individuais, como os religiosos) - sobre o aborto. Ser contra ou a favor da interrupção voluntária de gravidez - longe da promoção de um debate sério, fundamentado e de amplo alcance - está sendo tomado como tema central e determinante na escolha de quem vai governar o país.

O mundo moderno não é só marcado pela esfera política racionalizada e impessoal do Estado, mas pela diversidade de valores que se manifesta nas mais diferentes estruturas e agrupamentos sociais, entre as quais as instituições religiosas. O respeito às diferentes crenças numa sociedade democrática como a brasileira implica em que o Estado se abstenha de qualquer juízo de valor sobre a realidade realizado a partir de perspectivas marcadamente impregnadas de visões religiosas.

Difundida essencialmente através de boatos cibernéticos, uma maciça ofensiva dos setores mais conservadores de algumas igrejas cristãs acabou dando o tom da estratégia política dos dois candidatos para a Presidência da República. O ideário religioso ganhou a cena política e se constituiu em divisor de águas de uma disputa eleitoral que, por alguns, é convenientemente apresentada como uma luta do bem contra o mal. As opiniões pessoais de ambos os candidatos sobre um tema complexo, que abrange distintas esferas – social, sanitária, jurídica, psicológica, dos sistemas pessoais de crenças e valores, etc. – e que só pode ser debatido de forma ampla e ponderada no seio do Congresso Nacional e da sociedade, são disfarçadas e manipuladas em base a considerações oportunistas de campanha eleitoral ocultando, de fato, a discussão sobre combate à pobreza, defesa do meio ambiente, educação, saúde, saneamento, enfim sobre os diferentes modelos que os dois candidatos em disputa propõem para o desenvolvimento do país.

Por estes motivos, o projeto cultural Diálogos Criativos organizou um encontro especial que acontecerá na próxima terça-feira, 19 de outubro, com o título “Aborto nas eleições: a quem interessa?”. O objetivo do encontro é promover uma discussão aberta, séria e fundamentada acerca de como e porque um fenômeno extremamente complexo, delicado, não abordável sob a perspectiva de radicalismos ideológicos e reducionismos filosóficos, sobre o qual tanto no seio da sociedade como no dos dois partidos políticos cujos candidatos disputam a Presidência da República não existem posições unitárias e compactas se tornou, improvisa e inesperadamente, uma questão aparentemente determinante da escolha de quem vai governar o Brasil.

O foco do encontro não será uma discussão sobre a descriminalização do aborto, embora cada participante terá total liberdade para colocar seus argumentos a favor ou contra o assunto, e sim sobre se esta questão é ou não determinante na definição de quem deverá governar o país, considerando – além do mais – que apesar dos oportunistas disfarces eleitorais de última hora de ambos os candidatos não parece haver substanciais diferenças nas posições deles sobre o tema: José Serra, quando era Ministro da Saúde no governo de Fernando Henrique Cardoso, promoveu medidas que regulamentam e, portanto, tornam possível a aplicação efetiva da lei existente sobre aborto (que o libera nos casos de estupro ou de risco de vida da mãe), enquanto Dilma Roussef se declarou repetidamente a favor da não-criminalização e da não-estigmatização por parte do Estado das mulheres que o praticam.

No momento em que a população brasileira é chamada para tomar uma decisão fundamental - a da visão social, ambiental, econômica, etc. que norteará as políticas e as ações do governo do país durante os próximos quatro anos – os Diálogos Criativos apostam na promoção de uma discussão ampla, de alto nível, aberta a todos e alheia a fanatismos, pré-conceitos e demonizações de qualquer natureza sobre se realmente a posição individual dos candidatos à Presidência da República tem poder de influir sobre a legislação em matéria de aborto – considerando que só quem pode deliberar sobre o assunto é o Congresso Nacional, em cujo seio há opiniões extremamente diversificadas e transversais aos partidos políticos – ou se colocar no centro de debate esta questão possa responder a outro tipo de interesses e ter talvez como verdadeiro propósito o de ocultar uma discussão mais profunda sobre o modelo de país que os dois candidatos propõem.

O encontro acontecerá terça-feira, 19 de outubro, às 19:00 horas no Auditório da Livraria Siciliano, no terceiro piso do Midway Mall, com entrada franca. Para mais informações, visitem o blog http://dialogoscriativosnatal.blogspot.com ou escrevam para dialogos_criativos@dhnet.org.br.

Nenhum comentário:

Postar um comentário