terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Quarta-feira, 15 de dezembro, encontro-show sobre música e matemática com três grandes artistas potiguares para encerrar a temporada de 2010

Cleudo Freire (cleufreire@ig.com.br) - Músico, escritor e educador

O projeto cultural Diálogos Criativos, idealizado pelo jornalista e educador Antonino Condorelli, realizará na próxima quarta-feira, 15 de dezembro, o último encontro da atual temporada, no qual tive a honra de ser convidado. Para encerrar um ano riquíssimo, no qual foram promovidos instigantes encontros que fizeram dialogar de forma polifônica ciência, arte, memória histórica, ecologia, cinema, saúde, música, ética, psicologia, dança, política, gastronomia, viagens e outras áreas do conhecimento e da existência humana, o projeto promoverá mais um evento ousado no qual conversarei com um brilhante matemático, Iran Abreu Mendes, tentando traçar um diálogo entre música e matemática e envolvendo na discussão todo o público presente. O encontro não se limitará ao diálogo intelectual: as reflexões estarão entremeadas por apresentações ao vivo de canções minhas e de outros dois destacados músicos potiguares, Carlos Zens e Moisés de Lima, e terminará com um show de nós três. No final, além do mais, haverá um sorteio de cinco CDs do projeto Som da Mata, gentilmente disponibilizados pela administração do Parque das Dunas, e de dois livros entre os participantes.


Definir o que é música não é uma tarefa muito simples embora alguns autores já tenham ousado fazê-lo. Alguns dizem que a música é a arte do som ou dos sons; muitos supõem que seja a expressão das emoções por meio dos sons; outros consideram ser a música uma arte abstrata que exprime sentimentos pela organização do som, fazendo inclusive distinção entre som e ruído; numa tentativa mais abrangente seria a expressão da criatividade através dos sons.

Contudo as tentativas apresentadas, embora bastante contundentes, se limitam a uma generalização que reflete a transposição dos conhecimentos da física relativos à acústica, e em geral tendem a negligenciar o silêncio, elemento tão importante em qualquer obra musical. De qualquer forma, nenhuma delas apresenta a íntima relação que há entre a estrutura musical e a matemática. O que seria então a música? Que relação ela guarda com a matemática? Estas são as questões que tentarei explorar ao longo deste debate, no qual incursionarei também nas diferentes concepções nos vários períodos da história da música e algumas considerações em torno de padrões étnicos/musicais.

Melodia, harmonia e ritmo, que compõem todo o sistema de estrutura musical, são apenas elementos constitutivos e como tal servem muito bem às necessidades técnicas para tornar as peças musicais inteligíveis, executáveis, principalmente quando estas são escritas em partituras que por sua vez às tornam visíveis e se escritas em partituras braile, também poderia ser táteis.

Pensando desta forma, acredito que a partitura é uma forte demonstração da estrutura matemática por trás das obras musicais que muitas vezes passa despercebida diante da sedução exercida pelos sons. Se para fazermos uma obra musical necessitamos dividir o tempo com representações de sons e silêncios de durabilidade variável, é porque o grande princípio da música é matemático. E se esta subdivisão que caracteriza o aspecto rítmico é chamada de compasso e escrita tão matematicamente que toma de empréstimo um modelo próprio das equações - como: 2/4; 3/4; 4/4; 5/4; 6/4; 7/4 e assim por diante - é porque estamos tratando de uma arte matemática posto que o ritmo é o elemento fundamental da música.

A caracterização numérica dada às notas vai muito além de uma simples arbitrariedade inconseqüente é responsável e assumidamente valorações, algoritmos, modos de contar o tempo ocupado pelos sons de três em três; quatro em quatro; duas em duas; seis em seis unidades de modo que ao final de uma peça poderíamos até mesmo fazer cálculos de regra de três para demonstrar a relações de proporção, tão semelhante é o modo de abstração musical e matemático.

Poderíamos fazer com o silêncio, representado pelas pausas e o zero uma analogia, pois assim como o numeral as pausas representam durações definidas, que contabilizam e subdividem o tempo com valor relativo dependendo de onde sejam colocadas. Logo, para cada compasso, as pausas têm durações diferentes e o seu relativo sonoro do mesmo modo.

Nesta mesma perspectiva, argumentarei ainda acerca da relação que há entre harmonia e o conceito matemático de conjunto, subentendendo as relações harmônicas como graus de parentesco. Como não poderia deixar de ser destacarei a hibridez do elemento melódico, apontando para as características numéricas e geométricas da melodia como conseqüência das estruturas tonais e modais.

Este breve diálogo entre música e matemática, entre um músico e um matemático, poderá não trazer conclusões definitivas (de fato, este não é o objetivo), mas, sem sombra de dúvidas, trará elementos para uma boa reflexão que pode ser interessante para quando nos ocuparmos a analisar as fronteiras entre arte e ciência.

O encontro-show, intitulado Música, matemática e cultura: um diálogo possível, acontecerá quarta-feira, 15 de dezembro, às 19:00 horas no Auditório da Livraria Siciliano, no terceiro piso do Midway Mall. Todos os participantes, como de costume, receberão um expresso gourmet de cortesia oferecido pelo Café Genot, que poderá ser degustado nas mesas da cafeteria ao lado do Auditório da Siciliano.

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