segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Quarta-feira, 28 de setembro, exploraremos e cantaremos o rock dos anos 1970

Artigo introduzindo o encontro-show dos Diálogos Criativos de quarta-feira, 28 de setembro, sobre os rock da década de 1970. O diálogo, o segundo do ciclo Rock in Natal, estará entremeado por apresentações ao vivo de clássicos daquela fase do gênero.

Ugo Monte - Rockeiro e historiador

Indagado sobre o anúncio do fim dos Beatles após o lançamento do álbum Let it be, de 1970, John Lennon foi taxativo: “O sonho acabou”. Não era apenas o fim do grupo mais importante da história do rock, em todos os tempos, era o fim de uma era. A utopia hippie da geração de Woodstock sucumbiu diante do choque de realidade e desencanto dos anos 70. Numa perspectiva política e pragmática, a Primavera de Praga foi esmagada pelo totalitarismo stalinista. A luta pela liberdade na América Latina foi derrotada pelo arrefecimento da repressão dos regimes militares no poder. As barricadas do Quartier Latin que uniram estudantes e operários em maio de 68 foram esfaceladas pela realpolitik gaullista e a mobilização dos jovens da América não conseguiu por fim à Guerra no Vietnã, nem evitar a derrota humilhante, tanto militar quanto moral. As atrocidades cometidas pelos blue caps no sudoeste asiático e a presença de milhares de veteranos mortos-vivos em solo americano assombrariam durante décadas a autoconfiança do Império. A crise do petróleo e a saída pelas portas do fundo do presidente Nixon da Casa Branca completavam o quadro de incerteza reinante nos novos tempos. No Velho Mundo, chegava ao fim o ciclo de crescimento econômico iniciado no pós-guerra, com a crise, viriam à tona as tensões sociais decorrentes da rígida hierarquia de classes do Reino Unido. A presença maciça de imigrantes vindos das antigas colônias européias, mão-de-obra fundamental para o reerguimento do continente nos tempos difíceis, tornar-se-ia um problema social persistente até os nossos dias, alimentado pelo choque de civilizações anunciado pelo 11 de setembro.

Apesar de tudo, a vida segue, como acreditava George Harrison, no seu mantra pessoal: The dream is over, but “All things must pass”. O som da Motown embalava o orgulho afro do Black is beautiful, demonstrando o poder da música negra. A era do virtuosismo dos verdadeiros heróis da guitarra como Clapton, Hendrix e Page fincava raízes no hard rock e abria caminho para o surgimento do heavy metal. Como herança da alquimia musical da experiência psicodélica, o Glam, o Prog e o Art Rock romperam a fronteira entre a música erudita e a cultura pop.

De alguma forma, todos entraram para o clube dos corações solitários do Sargento Pimenta, que iniciou o círculo virtuoso dos épicos álbuns da década de 70, não era apenas virtuose, era vanguardismo. Fama e fortuna não eram mais as ambições primordiais do rock, mas o reconhecimento dos seus pares, um lugar na história e o nirvana artístico: a atemporalidade. A década de 70 foi a era da extravagância e da cultura dos extremos; da febre da Disco e da fúria do Punk; da suavidade Folk e do peso do metal; do rebuscamento estilístico do Art Rock e do minimalismo pueril do rock de garagem; da era de ouro das Superbandas do Mainstream e do laboratório Underground, no submundo de Londres e NY; Ocultismo e mitologia de um lado, escárnio e crítica social do outro. Em nenhum outro momento a cena pop foi tão multicultural. Não era mais apenas rock and roll, como diziam os Stones, era muito mais que isso.

Depois da experiência de sexo, drogas e rock and roll, o mundo jamais seria o mesmo. Se hoje nós apreciamos um certo gosto de liberdade e criamos nossos filhos a partir de outros paradigmas, esse foi um legado daquela geração. Por outro lado, se hoje nos assombra os perigos da dependência química e do vício que ronda o mundo dos nossos jovens, também faz parte do espólio da mesma geração. Se os anos sessenta foram a promessa de um mundo ideal, os anos 70 foi o mundo real, com todas as suas idiossincracias e contradições. Foi a vida pós-morte da utopia iconoclasta da contracultura, em que nem sempre os finais são felizes, Live fast, die young, muitos pereceram ao longo do caminho, para os que viveram, há ainda muita história pra contar.

São essas e outras histórias que serão contadas no encontro de quarta-feira, 28, do projeto cultural Diálogos Criativos, que estreará a temporada do segundo semestre deste ano. O encontro, intitulado Let’s rock (1969-1979): Utopia, Desencanto e Fúria é o segundo do ciclo temático Rock in Natal, sobre a história deste gênero musical que mudou a história da cultura. O ciclo contará com mais dois encontros: um em outubro sobre o rock das décadas de 1980 e 1990 e outro em novembro sobre a história do rock brasileiro. Todos os encontros, facilitados por um historiador e vários músicos, entremearão a palestra histórica com apresentações ao vivo de clássicos do gênero. O evento de quarta-feira, com entrada franca, acontecerá às 19:30 no Auditório da Livraria Siciliano, no terceiro piso do Midway Mall.

Nenhum comentário:

Postar um comentário